
A década de 80 foi decisiva para o ensino da Educação Física no Brasil. Pois, foi nesta época que surgiram vários questionamentos problematizando as suas origens e a sua história como componente curricular que segundo Souza e Vago (1997, p. 121).
A Educação Física sofreu influências médicas e militares que marcaram sua inserção nas escolas [...], fazendo a portadora de idéias e de práticas de higienização e disciplinarização dos corpos, tanto para o estabelecimento de uma ordem na escola quanto para a preparação física de mão-de-obra infantil para o mundo do trabalho.
Assim, foram surgindo denominações quanto ao papel da educação Física onde esta seria domadora de corpos humanos ou produtores de uma raça forte e enérgica, celeiro de atletas ou terapia escolar ou podemos ainda falar que é apenas uma promotora da saúde biológica e individual.
Esses levantamentos feitos sobre esta prática pedagógica levaram a questionar a sua existência como componente curricular, discutindo que tipo de pessoa e sociedade desejamos para o país para que possa então, construir um sistema educacional que busque rumos e objetivos mais claros.
Pressionados pela história, alguns profissionais de educação física, na década de 90, buscaram formulações de outras possibilidades para participação da Educação Física na cultura escolar, para ultrapassar fase dos questionamentos e se estruturar. Mas, antes dos objetivos serem alcançados surge um intenso movimento da nova lei de Diretrizes e Bases da educação nacional (LDB) nº 9.394/96 em 20.12.96, apresentando modificações no ensino impondo determinadas formas de ver o mundo, os seres humanos, a cultura, a escola... descaracterizando o sistema nacional de educação.
Para exemplificar essas descaracterizações Souza e Vago (1997, p. 123) diz que:
O enfraquecimento do ensino médio, tanto pela redução das verbas a ele destinada (em decorrência do referido funda) como pela ausência da normatividade esperada de uma lei; A negação do princípio da autonomia universitária que enfraquece a liberdade acadêmica e torna a universidade perigosamente subordinada ao governo e aos interesses do mercado; Uma reestruturação jurídica das universidades, o que indica o desmantelamento do sistema federal de ensino superior, abrindo caminho para a privatização das mesmas [...] Assim, entendemos como uma lei direcionista que explicita múltiplo interesse e não homogênea, pois seus pontos favorecem resultados satisfatórios apenas a uma classe e não a sociedade como um todo.
O artigo 26 da nova LDB (1996), no Inciso 3º estabelece que “A educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola é componente curricular da Educação Básica, sendo sua prática facultativa ao aluno que cumpre jornada de trabalho igual ou superior a seis horas, maior de trinta anos de idade, que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física, amparado pelo decreto-lei nº 1044, de 21 de Outubro de 1969 e que tenha prole”. Assim, a Educação Física começa a perder sua estabilidade no currículo educacional deixando de ser componente curricular obrigatório da educação superior e passa a ser facultativa em alguns casos, deixando para trás a possibilidade de tentar se legitimar enquanto uma prática pedagógica relevante dentro da escola.
Neste sentido de raciocínio percebemos que o maior desafio dos profissionais para esta profissão seria elaborar justificativas sólidas e bem explicadas para a inserção da educação física como disciplina obrigatória de todos os cursos em todos os níveis.
Atualmente no espaço escolar, a educação Física apresenta dificuldades devido a sua falta de identidade sofrendo conseqüências por não ter um corpo teórico próprio, isto é, a informação acumulada é vasta e extremamente desintegrada por tratar-se de uma área multidisciplinar. O que se espera é que as ações pedagógicas sejam coerentes com o pensamento pedagógico, objetivando o desenvolvimento global de cada aluno, procurando formá-lo como indivíduo participante, visando à integração desse aluno como ser independente criativo e capaz. Mas esse objetivo deve ser atingido também através de um trabalho consciente do educador, que precisa ter uma visão aberta às mudanças necessárias do processo educacional.
Alguns profissionais contribuem para que o quadro da educação física se acentue, pois seus trabalhos estão voltados para o individualismo, sem preocupar-se com o individuo enquanto pessoa que pensa que tem um potencial criador e vive num coletivo, estimulando assim a inexistência dessa prática pedagógica no contexto escolar, onde o principal papel do professor através de suas propostas é o de criar condições aos alunos para se tornarem independentes, participativos e com autonomia de pensamento e ação. Assim, poderá se pensar numa educação física comprometida com a formação integral do indivíduo enfatizando seu papel relevante no processo educativo.
A educação física no interior da escola tem como objetivo específico à cultura e a transmissão do conhecimento corporal de forma que proporcione ao indivíduo entender, explicar e transmitir. Ela não é a educação mecânica do movimento, mas uma educação que busque receber uma verdade científica e que abranja os aspectos inerentes ao ser humano.
O papel do professor neste processo é o de mediador do conhecimento, que saiba unir seu referencial teórico, sua sistematização do saber, com as experiências de vida dos alunos, fazendo com que as aulas tenham sentido e significado para todos. Sendo assim, deve-se pensar numa educação física que não esteja preocupada em produzir “corpos esculturais”, mas em participar da construção dos “corpos culturais” das crianças, dos adolescentes, dos trabalhadores, enfim dos homens e das mulheres, onde eles pensam, desejam, sofrem, brincam, jogam...
Enfim, a educação física tem um papel amplo na educação geral, pois no seu trabalho com a cultura corporal, ela deve proporcionar a busca da compreensão dos processos, e não somente de fatos isolados, na busca do ser humano como sujeito capaz de socialmente contribuir no esforço coletivo de transformação dos valores dominantes, trabalhando o homem em todos os aspectos sendo ele político, social, cultural, entre outros.
Referências Bibliográficas:
BETTI, Mauro. Educação Física e Sociedade. São Paulo:Movimento,1991.
BRACHT, WALTER. A busca da autonomia pedagógica. Revista da Educação Física. Maringá.Vol.01. n° 0. P.28-33. 1989.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. PCN: Educação Física.Vol. 07, 3ª edição. Brasilia:Secretaria de Educação Fundamental. MEC/ SEF. 2001.
COLETIVO DE AUTORES.Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo:Cortez.1992.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília:MEC/ SEF.1996.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei nº 10.793 . Brasília: MEC/SEF.2003.
SOUZA, Eustáquia Salvadora de e VAGO, Tarcísio Mauro. O ensino de Educação Física em face à nova LDB in COLÈGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. Educação Física Escolar frente a LDB e aos PCN’S: Profissionais analisam renovações, modismos e interesses. Sedigraf. Ijuí. 1997.
Lei nº 10.793 , de 01 de Dezembro de 2003
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¹ Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Especialista em Educação Física Escolar- Faculdade Atlântico. Professor do Colégio Estadual ‘José Amaral Lemos’ e Escola Municipal ‘Mário Trindade Cruz’, em Pirambu (SSE).
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