quarta-feira, 23 de abril de 2008

LITERATURA DE CORDEL


A PELEJA DOS PROFESSORES CONTRA O CORONELISMO DE PIRAMBU


“Pirambu ficou famoso

Pelas belezas naturais

Aqui tem bonitas praias

Belas dunas e coqueirais

Riachos e muitas lagoas

Espere aí que conto mais

(Tracejo do cordel A lenda da Lucrécia)

***



A estrofe acima citada

Trata-se de uma citação

Que o poeta de cordel

Achou pra a introdução

De mais uma obra-prima

Que não trata de ficção

***



Caríssimos companheiros

Com meus botões pensava

Da luta dos professores

E tão logo escrevinhava

Acreditem e me desculpem

Não sei se ria ou se chorava

***



Isso pelas patacoadas

Daqueles que são gestores

Sem compromisso algum

Com as senhoras e senhores

E fazem de tudo pra tirar

O direito dos professores

***



Na seqüencia dessa prosa

Direi o que particularmente

Acho desses camaradas

Que agem indecentemente

E assaltam a mão desarmada

O bolso de nossa gente

***



A nossa peleja começou

Quando num dado momento

Fizemos concurso público

E assinamos um documento

Para prestar um serviço

E então sair do sofrimento

***



Mas parece que deu azar

Principiou um sofrimento

No lugar da estabilidade

Apareceu o remanejamento

E um bando de puxa saco

Tirando a gente de tempo

***



Profere o ditado popular

Que a velha esperança

É a derradeira que morre

E paralelo a perseverança

Os professores pelejaram

Para ver chegar a mudança

***



Minha vó sempre dizia:

Não se atreva a cutucar

O cão com vara curta

Para não se prejudicar

Mas sabe, menino teimoso

Resolveu então arriscar

***



No início de dois mil e sete

Surgiu assim um movimento

Que quebrou a velha rotina

Do nosso planejamento
Rebelando-se naquela hora

E fazendo um rompimento

***



Não irei aqui citar nomes

Pra num agir injustamente

Pois cada um companheiro

Direta ou indiretamente

Contribui com a nossa luta

Simbora vamos pra frente

***



Rompendo com a mesmice

Com a maldita hipocrisia

Não se assustem, é verdade

Não estou falando arisia

O que hoje é pauta de luta

Antes se chamava heresia

***



Bem, voltando à reunião

Do planejamento informado

Promoveram uma dinâmica

Idêntica a do ano passado

Pra saber das expectativas

Do ano acima já citado

***



E concluindo os trabalhos

Fomos para os resultados

Brotaram grandes artistas

Com desenhos ilustrados

Só deu a lei da natureza

Nos trabalhos apresentados

***



A turma lá do fundão

Encerrou polemizando

Um bichano bem faminto

Q’stava ali simbolizando

O sofrimento do professor

Q’num tava mais agüentado

***



A figura do tal bichano

Foi então bem de$enhada

Olhando para uma cifra

Um tanto quanto agigantada

Que no bol$o do profe$$or

Há tempo foi di$pen$ada

***



Vivemo$ a era do gelo

Não mudava o vencimento

Poi$ a cifra bem gigante

Que e$tampava o documento

É a expre$$ão de cinco ano$

$em um real de aumento

***



Até hoje meus senhores

Somos mal interpretados

Os famosos bajuladores

Nos chamam de endiabrados

Somos vítimas do sistema

Estamos sendo maltratados

***



Esse protesto assustou

Surgindo uma oposição

Que tratou de perseguir

Mas seguimos com a opção

De instalar o Sindicato

Pra resolver essa situação

***



Foi então a primeira vez

Que se promoveu esse ato

Pois antes só em cochichos

Pois seria um desacato

Que ousasse citar o nome

De qualquer um sindicato

***



Daí fomos a promotoria

Pedir uma orientação

E o doutor promotor

Reforçou nossa opção

Sindicalizar-se é preciso

Antes de qualquer ação

***



Logo depois do carnaval

O grupo assim procedeu

Fez contato com o sindicato

Que prontamente atendeu

Com um curso de formação

Que a categoria concebeu

***



Mas antes quero frisar

Que na fase dos contatos

Com o SINTESE em Aracaju

E pra decidir sobre os fatos

Foi criada uma comissão

Com os devidos aparatos

***



Em caráter provisório

O empenho foi mantido

Participamos dos cursos

E foi muito divertido

Mas olhe muitos colegas

Não queria nos dá ouvido

***



Mas insistimos na luta

E vimos um feito heróico

Instalamos o Sindicato

Foi um ritual bucólico

Em vinte e oito de maio

Se deu esse fato histórico

***



A luta é quem faz a lei

Escrevas no pergaminho

Tá registrado na internet

E também lá no livrinho

Do espaço multi-cultural

Denominado de Clubinho
***
Ainda no primeiro semestre

Vivemos uma experiência

Foi com o Ministério Público

A nossa primeira audiência

Junto com a administração

Pra resolver nossa pendência

***



Mas antes quero frisar

Que de forma impertinente

Tentamos manter diálogo

Com o Senhor dirigente

Mas às vezes tava no mundo

Ou dizia que estava doente

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A sábia crença popular

Quem for esperto escuta

Já dizia o Srº. Trancoso

Com sua idéia matuta

Que quando a coisa ta ruim

Para piorar não custa

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Um grupo de pára-quedistas

Caíram em nosso terreiro

Vieram inventando moda

Foi tudo muito ligeiro

Mudaram o comportamento

Desse povo hospitaleiro

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Disseram até que Pirambu

Era a capital do Brega

Como é que fica o Ilariô?

Em meio a essa piega

Avante pirambuenses

Se não o gabiru pega

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Imergiram meu Pirambu

Num mar de corrupção

Saquearam o erário público

Maquiaram a documentação

Compraram carros de luxo

E aqui e ali uma mansão

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A justiça logo tratou

De encontrar uma solução

Pra salvaguardar Pirambu

Das garras da corrupção

Enviaram sob encomenda

Uma tal de Intervenção

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Inicialmente a população

Aceitou os interventores

Que vieram pra melhorar

A vida dos sofredores

Mas logo se transformaram

Em verdadeiros inventores

***



Devemos aqui ressaltar

Que quanto à organização

Da máquina administrativa

A equipe da intervenção

Tentou deixar um legado

Que nos chamou a atenção

***



Mas quanto ao funcionário

Faltou-lhes mais atenção

Relato com propriedade

Que na área da educação

Se engoliu muito discurso

Seguido de perseguição

***



Jamais devemos admitir

Que nós os servidores

Sejamos tão humilhados

Por nossos administradores

Afinal, a base da prefeitura

Somos nós, os trabalhadores

***



Já deu para perceber

Como foi o tratamento

Na época da intervenção

E para dar prosseguimento

Relatarei com amargura

Todo aquele sofrimento

***



Pense num povo pousista

No ato da negociação

Vamos blindar Pirambu

Essa é a nossa função

Expressão que se ouvia

Pelo povo da intervenção

***



Esses versos de cordel

É uma prosa verdadeira

Cada dia tem uma novidade

Nessa terra hospitaleira
Dê também sua opinião

Avante gente guerreira!
***
Depois de muitas tentativas

Sem nenhum entendimento

Só encontramos uma saída

Pra esse nosso movimento

Reunimos os professores

E fizemos um acampamento

***

No dia nove de outubro (2007)

Fizemos uma paralisação

Alojamos na frente do Mário

E com o apoio da população

Solicitamos que o interventor

Resolvesse a nossa situação

***

Naquele mesmo ínterim

Já tínhamos programado

Seguir com a paralisação

E conforme o combinado

Fizemos uma passeata

Pra deixar o povo alertado

***

Quando saímos na rua

Naquele mesmo momento

O povo da intervenção

Questionou o movimento

E começou a perseguição

Com os cortes no vencimento

***

Tudo por causa do plano

Que se encontra defasado

Pois não garante a carreira

Do nosso professorado

A briga por outro plano

Vem desde o ano passado

***

A intervenção não aprovou

O nosso plano de carreira

Os demais administradores

Disseram: isso é besteira

E não encontrando apoio

Tivemos que vir pra feira

***

Tivemos que vir pra feira

Mostrar para a população

Que o professor tá sofrendo

Com essa triste situação

Onde os gestores não querem

Avançar na negociação

***

Pirambu virou novela

Que tem muita audiência

O entra e sai de prefeito

É uma afronta à decência

Do povo desse município

Que tem muita paciência

***

Saiu então na cidade

A seguinte gozação

Se você que ser prefeito

Faça já a sua inscrição

Contribua pra melhorar

Essa triste situação

***

O administrador atual

Diz: não temos dinheiro

Pois todos nós sabemos

Isso não é verdadeiro

As verbas da educação

Não quebra o seu roteiro

***

É um dinheiro exclusivo

São verbas carimbadas

Que três vezes por mês

Elas são depositadas

Na conta da prefeitura

E que estão desviadas

***

Se nós perdemos os royalties

Em meio a essa altura

Trata-se da ingerência

De quem dirige a prefeitura

Não usou onde carecia

Deixou o povo na amargura

***

E sem avançar na conversa

Com a atual administração

Tivemos que mais uma vez

Fazer uma paralisação

Dessa vez foram três dias

Pra acabar com a humilhação

***

Atenção senhor prefeito

Chega desses clamores

Trate bem o professor

Chega desses horrores

O professor é quem educa

Os filhos dos eleitores

***

Abaixo o coronelismo

Que deixa o povo humilhado

E garantimos aos senhores

Vamos deixar o recado

Se não avançar paralisamos
Por tempo indeterminado


Autor: Professor Agnaldo dos Santos Silva - professor, ativista cultural e sindicalista.

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